Do total de 45 monumentos da Redenção, Lei de Incentivo salvou 31 obras

Beta Redação
3 min readDec 7, 2020

--

Segundo o historiador de arte, curador e pesquisador José Francisco Alves, a Prefeitura de Porto Alegre não tem plano para conservar obras. “Eu mesmo já fui de um cargo ano passado e poderia ter feito algo, mas estando nesse cargo vi que não poderia fazer nada. Saí, porque é muito difícil, mas assim mesmo várias entidades privadas captaram altos recursos pelas leis de incentivo, recuperaram monumentos no Parque Farroupilha em 3 projetos. Em seguida, tudo é destruído. Então, se por um lado a Prefeitura não responde adequadamente, por outro lado também a população impõe uma destruição muito grande”.

As intervenções de restauração, realizadas na Redenção em 2016, foram a segunda etapa de um processo de revitalização dos monumentos do Parque Farroupilha, em parceria com o Sindicato das Indústrias da Construção Civil no Estado do Rio Grande do Sul (Sinduscon RS). A intenção foi de revitalizar todas as obras escultóricas do parque. A coordenadora técnica do projeto, Verônica Di Benedetti, conta que o processo de restauração foi muito importante. “Praticamente 100% das obras estavam vandalizadas, sem qualquer tipo de identificação que as valorizasse”, enfatiza. A especialista lembra que muitos monumentos se resumiam a um totem de granito ou mesmo concreto totalmente sem significado porque seus elementos escultóricos e mesmo as placas de identificação haviam sido roubadas.

Para evitar que o patrimônio fosse roubado, foram feitas obras com materiais de menor valor comercial, como o pó de bronze. Os esforços, porém, se mostraram inválidos, quando menos de 34 dias após a restauração alguns monumentos foram depredados.

Custódio comenta que a revitalização acaba sendo temporária devido ao patrimônio sofrer ataques constantes. Os da Redenção, da primeira etapa e da segunda etapa [de restauração], praticamente todos foram vandalizados e alguns vandalizados por motivação de roubo, outros de pura depredação e outros de reação política”.

Apesar do esforço, muitas obras de arte não podem ser renovadas ao seu ponto inaugural. São muitas as partes roubadas ao longo dos anos, conforme relata o historiador Francisco Alves, que em sua pesquisa aponta o ano de 1999 como o precursor da destruição massiva de monumentos. Há pouco mais de 20 anos se observa um roubo sistemático dos monumentos na cidade, como é o caso dos seis chafarizes franceses que “sumiram” da cidade sem deixar vestígios, no início do século passado.

Monumento a Giuseppe e Anita Garibaldi, inaugurado em 1913. (Foto: Arquivo Pessoal/Luiz Antônio Bolcato Custódio)

E aqui, Custódio faz questão de diferenciar roubo e vandalismo: “o vandalismo decorre basicamente de dois tipos de agentes. Um, daqueles que buscam peças, pedaços e componentes para vender, ou seja, metal, e às vezes isso está vinculado a drogas. E o outro é o vandalismo puro, que é por um lado pura ignorância ou má fé, ou mesmo, feito por pessoas de nível superior que fazem manifestações políticas sobre os monumentos, quebram e depredam”.

Em 2014, o Ministério Público solicitou uma campanha de “busca” aos monumentos roubados, chamada “Procura-se”. A campanha era composta por cartazes no formato similar ao usado em buscas por animais e pessoas, continha foto dos monumentos desaparecidos e o contato da Prefeitura para denúncias. Com baixo orçamento, o projeto não teve amplo alcance.

Custódio, que foi coordenador da Memória Cultural entre os anos 2009 a 2016, afirma que de forma geral, os monumentos roubados em anos anteriores já haviam tido seu destino, “tudo que era metal foi derretido”. Então, a campanha foi uma forma de conscientização, mais do que eficaz contra roubos.

Cartaz da campanha “Procura-se”, veiculada em Porto Alegre, em 2014. (Foto: Arquivo Pessoal/Luiz Antônio Bolcato Custódio)

--

--

Beta Redação

A Beta Redação integra diferentes atividades acadêmicas do curso de Jornalismo da Unisinos em laboratórios práticos, divididos em cinco editorias.